Fundep leva ciência para os trabalhadores da obra do CNVacinas

Série de palestras tem objetivo de permitir aos responsáveis pela construção do Centro Nacional de Vacinas conhecer novas tecnologias da construção civil e discutir questões relacionados ao seu trabalho

Quando começou a trabalhar na construção civil, há 52 anos, o atualmente operador de betoneira Walter Antônio França (64) mal sonhava que, um dia, estaria em uma obra dentro de uma Universidade, com oportunidade de aprender sobre inovações tecnológicas da construção civil e discutir a importância do seu próprio trabalho em pleno horário de serviço. Um dos operários responsáveis pela construção do Centro Nacional de Vacinas (CNVacinas), Walter ficou ao mesmo tempo maravilhado e temeroso ao se deparar com o uso de robôs e de drones aplicados à construção civil.

“Para mim é muito surpreendente. Quando eu comecei, menino ainda, tudo era manual, não tínhamos nem ferramenta direito. Então fico maravilhado de ver o quanto a construção civil evoluiu e como esses robôs fazem coisas que precisavam de muita gente para fazer. Eu não tenho medo de perder meu emprego, pois já estou quase me aposentando, mas para os mais jovens, o jeito é procurar o estudo, caso contrário, como ela vai operar essas tecnologias? A construção hoje, com tanta tecnologia, precisa de profissionais com estudo”.

Ainda que cause certo temor aos operários, o uso de robôs e novas tecnologias ainda não é uma realidade tão forte no Brasil. Segundo os números do mapeamento do ecossistema brasileiro de startups realizado pela Associação Brasileira de Startups (ABSTARTUPS), em 2023, apenas 2% das startups cadastradas eram da área de inovação na construção civil. Já o levantamento realizado pela Terra Cota Ventures para o primeiro semestre de 2024 aponta que, apesar do crescimento de 4,3 % do setor, ainda existem menos de 300 startups focadas em inovação na construção civil atuando no Brasil atualmente.

Apesar de lento, o crescimento é visível, e para ajudar os operários a se antecipar a essa realidade, a Fundação de Apoio a UFMG (Fundep), responsável pela edificação do CNVacinas, está promovendo palestras que demonstram essas últimas tecnologias aos operários.

Todas as semanas, num total de 13 encontros, os operários vão dedicar uma hora do dia para conhecer sobre inteligência artificial, IoT, robótica, uso de drones, impressoras 3D entre outros tópicos relacionados à inovação nos canteiros de obras, bem como os impactos sociais dessas transformações no local de trabalho.

Além de tecnologia, operários aprendem sobre as vacinas que serão produzidas

Segundo o diretor da Fundep Walmir Caminhas, as palestras têm a finalidade de levar o conhecimento produzido na UFMG para os trabalhadores, o que impacta a vida profissional deles.

“Por se tratar de uma obra construída dentro da universidade, temos a obrigação de formar essas pessoas, dar a elas oportunidades para desenvolver novos conhecimentos. São inovações que ainda estão engatinhando, muitas ainda não estão no dia a dia dos operários da obra, mas é essencial que eles conheçam o impacto delas no mercado da construção ", avalia o diretor, que é professor da Escola de Engenharia da UFMG.

As aulas que discutem o uso de novas tecnologias se revezam com discussões sobre o cotidiano profissional e a própria condição de vida dos operários. Por exemplo, a partir da música “Cidadão”, de Zé Geraldo, cantada a plenos pulmões pelos operários na última terça-feira (10), eles discutiram a noção de cidadania e quais são os direitos dos trabalhadores.

Reginaldo da Costa, um dos pedreiros da construção que têm assistido às palestras, destaca as oportunidades de troca de experiências. “Eu não sou muito ligado nessa área de tecnologia então, ter esse contato com o pessoal da área da engenharia da universidade é bem bacana. É a primeira vez que trabalho com para a UFMG, e estou achando muito produtivo. Para mim, os robôs e drones e as outras máquinas chegam para somar, já que a mão de obra para os serviços mais pesados e até de risco está em falta”.

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Foto dos trabalhadores examinando o drone da construção do CNVacinas

O Centro Nacional de Vacinas

O Centro Nacional de Vacinas é um projeto resultante de um convênio, assinado em dezembro de 2021, pela UFMG, pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) e pelo governo de Minas Gerais. O prédio está sendo erguido em terreno no Parque Tecnológico de Belo Horizonte (BH-TEC), instituição que tem a Universidade como sócia-fundadora e parceira estratégica.

Além de ser executado pela Fundação, o projeto, conta com a gestão administrativa e financeira da Fundep e tem aporte de R$ 80 milhões dos parceiros. Quando estiver pronto, o CNVacinas vai absorver e ampliar as atividades do CT-Vacinas da UFMG, responsável, entre outras inovações, pelos testes da Spin-TEC, vacina contra a covid-19. Dessa forma, será possível acelerar o desenvolvimento de vacinas, imunobiológicos e testes de diagnóstico para doenças humanas e veterinárias dentro do conceito One Health (Saúde Única), contribuindo assim para o Sistema Único de Saúde e desenvolvimento socioeconômico do país.

Texto: Arthur Henrique de Oliveira Edição: Tacyana Arce Foto: Arthur Henrique de Oliveira